ATON
A fotografia me fascina porque nela ressoam duas forças: a Luz e o Tempo. Que são, para mim, dos grandes Deuses que nos governam — desvelando camadas, desenhando formas, moldando cada instante.
Desde sempre, a observação da energia solar me desperta curiosidade, e, em descrições do Egito Faraônico, encontrei ecos profundos dessa atração.
Nos tempos de Akhenaton, o Deus Sol, Aton, elevou-se como soberano entre os outros deuses, e o atonismo surgiu como a primeira religião monoteísta que se tem registro. A luz solar, segundo essa crença, era o próprio olhar de Deus, uma presença viva que tocava o mundo e cada ser.
Naquele tempo, acreditava-se que a visão não era apenas receptiva, mas uma emanação — como um feixe que se expandia do olho e, ao encontrar o objeto, selava um vínculo com ele. Esse conceito despertou em mim o desejo de construir este ensaio, flertando bem de perto com essa ideia: onde o Sol alcança, Deus toca.
No entanto, pergunto-me até onde vai esse reinado do Sol, e até onde Deus depende de quem o observa. Afinal, um Deus só existe se há um povo que o reverencie. Sem os olhos para testemunhá-lo, qual seria seu domínio?

e assim falou Zaratustra:
“Ó, Grande Astro!
Que seria de tua felicidade,
se não tivesses aqueles que iluminas?”





















